Bezerra
de Menezes
Cavalcanti
O Médico dos Pobres
Adolfo Bezerra de Menezes
Cavalcanti
Jornalista - Médico -
Político - Espírita
Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, nasceu no dia
29 de agosto de 1831, na antiga freguesia do Riacho do Sangue (hoje Jaguaretama),
no estado do Ceará.
Filho de Antônio Bezerra de
Menezes e de Fabiana de Jesus Maria Bezerra, oriundo de tradicional família de
políticos do Sul, uma das primeiras que vieram povoar aquele estado, foi criado
por seus pais dentro dos princípios religiosos do catolicismo e disciplina militar,
tendo o dever e a honra como norma a seguir.
Não teve vida fácil, contudo
com esforço e dedicação alcançou posições de destaque chegando a ser médico,
jornalista, político e presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB).
No ano de 1838, entrou para
a escola pública da Vila do Frade. Bem cedo revelou sua fulgurante
inteligência. Aos 6 anos sabia ler, ao 7, iniciava o
curso primário, e, aos 11, principiava o Curso
de Humanidades, em virtude da transferência de sua família para o Rio
Grande do Norte, matriculando-se na aula pública de latinidade que funcionava
na Serra do Martins, dirigida pôr jesuítas. Seu
aproveitamento era
notável, bastando lembrar que aos 13
anos, conhecia
tão bem o latim que ministrava, a seus companheiros, aulas dessa matéria na própria escola em que fazia seus preparatórios, quando
do impedimento de seu professor. Orientava-o, nos estudos, o tio e grande
amigo, Dr. Manoel Soares da Silva Bezerra.
Seu pai, o capitão das antigas
milícias e tenente-coronel da Guarda Nacional, Antônio Bezerra de Menezes,
homem severo, de honestidade a toda prova e de ilibado caráter, tinha bens de
fortuna em fazendas de criação. Com a política, e por efeito do seu bom
coração, que o levou a dar abonos de favor a parentes e amigos, que o
procuravam para explorar-lhe os sentimentos de caridade, comprometeu aquela
fortuna. Percebendo, porém, que seus débitos igualavam seus haveres, procurou
os credores e lhes propôs entregar tudo o que possuía, o que era suficiente
para integralizar a dívida. Os credores, todos seus amigos, recusaram a proposta,
dizendo- lhe que pagasse como e quando quisesse.
O velho honrado insistiu;
porém, não conseguiu demover os credores sobre essa resolução, por isso deliberou
tornar-se mero administrador do que fora sua fortuna, não retirando dela senão
o que fosse estritamente necessário para a manutenção da sua família, que assim
passou da abastança às privações.
Cumpridos os 5
anos de ginásio
e animado do firme propósito de orientar-se pelo caráter íntegro de seu pai,
Bezerra de Menezes, com a minguada quantia de R$ 38$000 (trinta e oito mil
Réis) que seus parentes lhe deram, e animado do propósito de sobrepujar todos
os óbices, partiu para o Rio de Janeiro em 05 de fevereiro de 1851, a fim de
seguir a carreira que sua vocação lhe inspirava: a Medicina.
Para poder estudar, dava
aulas particulares de Filosofia e Matemática, e como não podia comprar livros,
estudava nas bibliotecas, mas sempre tirou ótimas notas, pois se esforçava
muito.
Digno de registro foi um
caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era estudante de
Medicina. Ele estava em sérias dificuldades financeiras, precisando da quantia
de cinqüenta mil réis, para pagamento das taxas da Faculdade e para outros
gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer
contemplação, ameaçava despejá-lo.
Desesperado - uma das raras
vezes em que Bezerra se desesperou na vida - e como não fosse incrédulo, ergueu
os olhos ao Alto e apelou a Deus.
Poucos dias após bateram-lhe
à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que pretendia tratar
algumas aulas de Matemática.
Bezerra recusou, a
princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava, entretanto, o
visitante insistiu e por fim, lembrando-se de sua situação desesperadora,
resolveu aceitar.
O moço pretextou então que
poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o
pagamento de todas as aulas adiantadamente. Após alguma relutância, convencido,
acedeu. O moço entregou-lhe então a quantia de cinqüenta mil réis. Combinado o
dia e a hora para o início das aulas, o visitante despediu-se, deixando Bezerra
muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da Faculdade.
Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o rapaz
nunca mais apareceu.
Em novembro de 1852,
ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia.
Doutorou-se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a
tese "Diagnóstico do Cancro", com 25 anos. Nessa altura abandonou o
último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra de Menezes.
Abriu, com um
colega, consultório no centro do comércio, onde esteve espantando moscas por
longos meses. Mas, em sua casa, a clínica ia crescendo, pois era gente que não
pagava.
Recebe a alcunha de
"Médico dos Pobres". Foi-lhe dado mais por troça, mas ele a aceitou
com orgulho, disse depois que foi o mais honroso título que já recebera.
A 27 de abril de 1857,
candidatou-se ao quadro de membros titulares da Academia Imperial de Medicina,
com a memória "Algumas Considerações sobre o Cancro encarado pelo lado do
Tratamento". O parecer foi lido pelo relator designado, Acadêmico José
Pereira Rego, a 11 de maio de 1857, tendo a eleição se efetuado a 18 de maio do
mesmo ano e a posse a 1º de junho. Foi eleito redator
dos seus Anais, posto que ocupou com brilho durante 4 anos. Em 1858
candidatou-se a uma vaga de lente substituto da Seção de Cirurgia da Faculdade
de Medicina. Por intercessão do mestre Manoel Feliciano Pereira de Carvalho,
então Cirurgião-Mor do Exército, Bezerra de Menezes foi nomeado seu assistente,
no posto de Cirurgião-Tenente.
Casou-se com Maria Cândida de Lacerda em 06 de novembro de 1858, mas esta veio a falecer em 1863, acometida por rápida enfermidade, deixando-lhe dois filhos ainda pequenos.
Um ano depois, casou-se pela
segunda vez com Cândida Augusta Lacerda, irmã materna de sua primeira esposa,
com quem teve 07 filhos.
Político, grande defensor da
abolição da escravatura, líder do Partido Liberal, eleito vereador municipal em
1861, teve sua eleição impugnada pelo chefe conservador, Haddock Lobo, sob a
alegação de ser médico militar. Objetivando servir o seu Partido, que
necessitava dele a fim de obter maioria na Câmara, resolveu Bezerra de Menezes
afastar-se do Exército. Em 1867 foi eleito Deputado Geral, tendo ainda figurado
em lista tríplice para uma cadeira no Senado.
Quando político, levantou-se
contra ele, a exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma
torrente de injúrias que cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova
da pureza da sua alma deu-se quando, abandonando a vida pública, foi viver para
os pobres, repartindo com os necessitados o pouco que possuía.
Corria sempre ao tugúrio do
pobre, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua
palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa
minguada e generosa.
Missionário que sempre fora,
um dia ao atender uma mulher, prescreveu os remédios e lhe disse que poderia
compra-los ali mesmo, ao que esta respondeu que não tinha nem para dar o que
comer, quanto mais comprar remédios. Bezerra procurou nos bolsos e nada
encontrou, olhou em volta e nada viu, reparou então em seu anel de formatura, e
deu-o, sem pestanejar para comprar medicamento para o filho doente.
Dedicava-se unicamente aos
pobres, dando consultas gratuitas. Como não conseguia cobrar, seu amigo, dono
da farmácia onde atendia é quem pedia ajuda aos que podiam. Não tendo nenhuma
fonte de renda além dessa, passava portanto, muitas privações.
Muitas vezes, comovido com o
pesar das pessoas, ia até o amigo farmacêutico e pegava tudo o que ele tinha
recebido e distribuía aos necessitados que o procuravam.
Em certa ocasião a situação
estava muito ruim, sua mulher lhe disse que não teriam o que comer à noite, e
ele respondeu que confiasse em Jesus. Ao voltar de noite ela reclamou do seu
exagero, o que ele estranhou, então ela mostrou uma enorme quantidade de
alimentos que lhe foi entregue de manhã, cuja origem jamais souberam.
Outra vez, um homem o
procurou dizendo estar desempregado e doente, como os seus. Bezerra olhou nos
bolsos e nada encontrou, perguntou então se ele acreditava em Nossa Senhora, o
que ele disse que sim, então lhe deu um abraço dizendo que era em nome dela, e
disse para repetir o gesto em casa. Na semana seguinte voltou para agradecer
pois ficou curado e arranjara emprego.
Desviado interinamente da
atividade política e dedicando-se a empreendimentos empresariais, criou a Companhia
de Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então província do Rio de Janeiro.
Depois, empenhou-se na construção da via férrea de Santo Antônio de Pádua,
etapa necessária ao seu desejo, não concretizado, de levá-la até o Rio Doce.
Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o
"Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel, cujo
topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em 1875, era presidente da
Companhia Carril de São Cristóvão.
Quando comandava a empresa
de trens, ao findar o expediente, um conhecido chegou até ele dizendo que seu
filho havia morrido. Não deixou ele continuar, chamou a um canto, tirou a
carteira e nem olhou o quanto tinha, deu-lhe tudo, percorreu os bolsos e deu
até as moedas que possuía. Não esperou agradecimentos e foi embora, só então
percebeu que não tinha nem para o bonde, de modo que foi obrigado a pedir a amigos
a passagem.
Retornando à política, foi
eleito vereador em 1876, exercendo o mandato até 1880. Foi ainda presidente da
Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro, no ano de 1880.
Fica descontente de tudo,
passando a ler a Bíblia para se consolar.
O Dr. Carlos Joaquim Travassos integrante do primeiro grupo espírita do país, "Confúcios", havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo, o Dr. Joaquim Travassos, durante uma viagem de bonde, ofertou um exemplar a Bezerra de Menezes, entregando-o com dedicatória. O episódio foi descrito do seguinte modo por Bezerra:
"Deu-mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde.
Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse
comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto... Depois, é
ridículo confessar-me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as
escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi-me a ele, como
acontecera com a Bíblia.
Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito.
Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o
que se achava no "O Livro dos Espíritos". Preocupei-me seriamente com
este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita
inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença".
Para se convencer, faz uma
consulta anônima, mandando por um amigo um papel contendo apenas seu nome e
idade, e recebeu de volta a descrição dos seus sintomas, a causa deles e a
prescrição para cura, e cura um problema de cinco anos apenas com homeopatia.
Comentou com um vizinho que
já estava melhor, quando recebeu o comunicado do espírito dizendo que ainda não
estava de todo bem, chegando a mensagem uma hora depois do comentário,
exatamente o tempo da viagem até sua casa.
Sua esposa tinha problemas,
e os médicos diziam que era tuberculose, o que era muito grave na época. Os
espíritos indicaram problema em outro lugar, no útero, e a curaram.
Certa vez sua esposa foi
procura-lo pois sua filha estava muito doente, mas ao sair foi chamado por outra
mulher, pedindo ajuda para o filho que também adoecera, Disse a esposa que não
pode deixar de atender a quem chama, de modo que entrega a filha a Jesus, e vai
até o outro enfermo, esperando, ao retornar à casa, encontrar a filha morta,
mas a doença passara completamente, de onde conclui que Jesus é melhor médico
que ele.
No dia 16 de agosto de 1886,
um auditório de cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de
honra da Guarda Velha, na rua da Guarda Velha, atual Avenida 13 de Maio, no Rio
de Janeiro, para ouvir em silêncio, emocionado, atônito, a palavra sábia do
eminente político, do eminente médico, do eminente cidadão, do eminente
católico, Dr. Bezerra de Menezes, que proclamava a sua decidida conversão ao
Espiritismo.
Bezerra era um religioso no
mais elevado sentido. Sua pena, por isso, desde o primeiro artigo assinado, em
janeiro de 1887, foi posta a serviço do aspecto religioso do Espiritismo.
Demonstrada a sua capacidade literária no terreno filosófico e religioso, quer
pelas réplicas, quer pelos estudos doutrinários, a Comissão de Propaganda da
União Espírita do Brasil, incumbiu-o de escrever, aos domingos, no "O
Paiz" tradicional órgão da imprensa brasileira, a série de "Estudos
Filosóficos", sob o título "O Espiritismo". O Senador Quintino
Bocaiúva, diretor daquele jornal de grande penetração e circulação, "o
mais lido do Brasil", tornou-se mesmo simpatizante da Doutrina Espírita.
Os artigos de Max,
pseudônimo de Bezerra de Menezes, marcaram a época de ouro da propaganda espírita
no Brasil. De novembro de 1886 a dezembro de 1893, escreveu ininterruptamente,
ardentemente.
Da bibliografia de Bezerra
de Menezes, antes e após a sua conversão do Espiritismo, constam os seguintes
trabalhos: "A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para
extingui-la sem dano para a Nação", "Breves considerações sobre as
secas do Norte", "A Casa Assombrada", "A Loucura sob Novo
Prisma", "A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica",
"Casamento e Mortalha", "Pérola Negra", "Lázaro -- o
Leproso", "História de um Sonho", "Evangelho do
Futuro". Escreveu ainda várias biografias de homens célebres, como o
Visconde do Uruguai, o Visconde de Carvalas, etc. Foi um dos redatores de
"A Reforma", órgão liberal da Corte, e redator do jornal
"Sentinela da Liberdade".
Em 1888, sofreu a perda de dois filhos.
Bezerra de Menezes tinha a
função de médico no mais elevado conceito, por isso, dizia ele:
"Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar
se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não
acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou
por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro,
o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a
quem lhe chora à porta que procure outro - esse não é médico, é negociante de
medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos de formatura.
Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer
uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do
seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivéns da vida."
Em 1883, reinava um ambiente
francamente dispersivo no seio do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os
núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais bem
estruturada e que, por isso mesmo, se tornasse mais indestrutível.
Os Centros, onde se
ministrava a Doutrina, trabalhavam de forma autônoma. Cada um deles exercia a
sua atividade em um determinado setor, sem conhecimento das atividades dos
demais. Esse sentimento levou-os à fundação da Federação Espírita Brasileira.
Nessa época já existiam
muitas sociedades espíritas, porém, as únicas que mantinham a hegemonia de
mando eram quatro: a "Acadêmica", a "Fraternidade", a
"União Espírita do Brasil" e a "Federação Espírita Brasileira",
entretanto, logo surgiram entre elas vivas discórdias.
Sob os auspícios de Bezerra
de Menezes, e acatando prescrições das importantes "Instruções" recebidas
do plano espiritual pelo médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso
"Centro Espírita", o que, entretanto, não impediu que Bezerra desse a
sua colaboração a todas as outras instituições.
O entusiasmo dos espíritas
logo se arrefeceu, e o velho seareiro se viu desamparado dos seus companheiros,
chegando a ser o único freqüentador do Centro. A cisão era profunda entre os
chamados "místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que
aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam
simplesmente pelo lado científico e filosófico.
Em 1892, Bezerra
de Menezes, por sua desambição das coisas materiais e por efeitos da
implantação da República, foi reduzido à pobreza e ao isolamento. Ainda, assim,
mantinha a seção dominical de “O Paiz”; escrevia artigos para o “Reformador” e
veio a lume o romance “Lázaro, o Leproso”.
Em 1893, todas
as vozes se calaram, porém Max continuou incansável, escrevendo. Foi a
derradeira pena a parar, e só em 25 de dezembro encerrou os estudos
Filosóficos”, no “O Paiz”, escrevendo tocante homenagem a mãe de Jesus. Em 1893, a convulsão
provocada no Brasil pela Revolta da Armada, ocasionou o fechamento de todas as
sociedades espíritas ou não.
Em 1894, o ambiente mostrou
tendências para melhora e o nome de Bezerra de Menezes foi lembrado como o
único capaz de unificar o movimento espírita.
Nos trabalhos de desobsessão
na FEB, um espírito não queria aceitar a Deus, dizendo que este não existia.
Como nada mais lhe restava a dizer, decidiu orar, fazendo-o tão sentidamente
que convenceu o espírito reticente: "Basta! para que vocês orem desse
modo, é preciso que um Deus exista".
Também na desobsessão, após
convencer um espírito obsessor, este lhe disse: "Bom velhinho, não foram
suas palavras que me convenceram, mas os seus sentimentos".
O infatigável batalhador,
com 63 anos de idade, foi convocado por companheiros espíritas a assumir a
presidência da Federação Espírita Brasileira.
Em vista da relutância dele
em assumir aquele espinhoso encargo, travou-se a seguinte conversação:
- Querem que eu volte para a
Federação. Como vocês sabem aquela velha sociedade está sem presidente e
desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o
Evangelho, vive a discutir teses bizantinas e a alimentar o espírito de hegemonia.
- O trabalhador da vinha,
disse Bittencourt Sampaio, é sempre amparado. A Federação pode estar errada na
sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos Necessitados, que
basta por si só para atrair sobre ela as simpatias dos servos do Senhor.
- De acordo. Mas a
Assistência aos necessitados está adotando exclusivamente a Homeopatia no tratamento
dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha
família e recomendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata.
Isto aliás me tem criado sérias dificuldades, tornando-me um médico inútil e
deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não
tendo assim o direito de exercer a profissão.
- E por que não te tornas
médico homeopata? disse Bittencourt.
- Não entendo patavinas de
Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos.
Nessa altura, o médium
Frederico Júnior, incorporando o Espírito de Santo Agostinho, que era o guia
espiritual de Bezerra deu um aparte:
- Tanto melhor. Ajudar-te-emos
com maior facilidade no tratamento dos nossos irmãos.
- Como, bondoso Espírito? Tu
me sugeres viver do Espiritismo?
- Não, por certo! Viverás de
tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu saber humano, para isso
estudando Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro Bittencourt. Nós te
ajudaremos de outro modo: Trazendo-te, quando precisares, novos discípulos de
Matemática...
Não teve como dizer não,
ficando ora no cargo de presidente, ora de vice-presidente, até a sua desencarnação.
À frente da FEB, conciliou,
em nome do amor, místicos e cientistas, empunhando sempre o slogan "Deus,
Cristo e Caridade", e muito trabalhando pelo bem comum.
Iniciava-se o ano de 1900, e
Bezerra de Menezes foi acometido de violento ataque de congestão cerebral, que
o prostrou no leito, de onde não mais se levantaria.
Verdadeira romaria de
visitantes acorria à sua casa. Ora o rico, ora o pobre, ora o opulento, ora o
que nada possuía.
Ninguém desconhecia a luta
tremenda em que se debatia a família do grande apóstolo do Espiritismo. Todos
conheciam suas dificuldades financeiras, mas ninguém teria a coragem de
oferecer fosse o que fosse, de forma direta. Por isso, os visitantes
depositavam suas espórtulas, delicadamente, debaixo do seu travesseiro. No dia
seguinte, a pessoa que lhe foi mudar as fronhas, surpreendeu-se por ver ali
desde o tostão do pobre até a nota de duzentos mil reis do abastado!...
Adolfo Bezerra de Menezes
desencarnou no dia 11 de abril de 1900, sem deixar bens materiais para a
família, pois era um espírito missionário, para quem a maior riqueza do homem é
a purificação da alma. Amor ao próximo, solidariedade, abnegação e
desprendimento foram e são as suas heranças.
Ocorrida a sua
desencarnação, verdadeira peregrinação demandou sua residência a fim de
prestar-lhe a última visita.
O enterro do corpo de
Bezerra foi uma apoteose. Gente de toda a cidade do Rio de Janeiro, especialmente
dos morros, das favelas, gente humilde, descalça, maltrapilha, os pobres de
espírito, os humildes de coração, beneficiados pela Medicina do seu Amor, ali
se achavam em mistura com outra gente rica e poderosa, pertencente ao mundo
oficial do Governo e às entidades culturais do Distrito Federal.
E todos choravam como se
tivessem se apartado de um Pai, do maior de seus amigos!
No dia 17 de abril,
promovido por Leopoldo Cirne, reuniram-se alguns amigos de Bezerra, a fim de
chegarem a um acordo sobre a melhor maneira de amparar a sua família, tendo
então sido formada uma comissão que funcionou sob a presidência de Quintino
Bocaiúva, senador da República, para se promover espetáculos e concertos, em
benefício da família daquele que mereceu o cognome de "Kardec
Brasileiro".
"Um dia perguntado ao
Dr. Bezerra de Menezes qual foi a sua maior felicidade quando chegou ao plano
espiritual. Ele respondeu:
- A minha maior felicidade,
meu filho, foi quando Celina, a mensageira de Maria Santíssima, se aproximou do
leito em que eu ainda estava dormindo e, tocando-me, falou suavemente:
- Bezerra, acorde, Bezerra!
Abri os olhos e vi-a, bela e
radiosa.
- Minha filha, é você
Celina?!
- Sim, sou eu, meu amigo. A
mãe de Jesus pediu-me que lhe dissesse que você já se encontra na Vida
Espiritual, havendo atravessado a porta da imortalidade. Agora, Bezerra,
desperte feliz.
Chegaram os meus familiares,
os companheiros queridos das hostes espíritas que me vinham saudar. Mas eu
ouvia um murmúrio, que me parecia vir de fora. Então, Celina me disse:
- Venha ver, Bezerra.
Ajudando a erguer-me do
leito, amparou-me até a escada, e eu vi uma multidão que acenava, com ternura e
lágrimas nos olhos.
- Quem são, Celina -
perguntei - não conheço ninguém. Quem são?
- São aqueles a quem você
consolou, sem nunca perguntar-lhes o nome. São aqueles espíritos atormentados,
que chegaram às sessões mediúnicas e a sua palavra caiu sobre eles como um
bálsamo numa ferida em chaga viva; são os esquecidos da Terra, os destroçados
do mundo, a quem você estimulou e guiou. São eles, que o vêm saudar no pórtico
da eternidade...
E o Dr. Bezerra concluiu:
- A felicidade sem lindes
existe, minha filha, como decorrência do bem que fazemos, das lágrimas que
semeamos no caminho, para atapetar a senda que um dia percorremos".
No Plano Espiritual, em
1950, Maria de Nazaré chamou-o para zonas superiores, mas ele preferiu ficar
aqui, junto de seus pobres e doentes.
Sua vida é um exemplo de
probidade, de amor ao próximo, em que ele ganhou 50 encarnações em apenas uma,
não precisamos fazer tanto, mas podemos ganhar uma ou duas apenas tentando um
pouco.
Bibliografia Espírita de Adolfo Bezerra de Menezes
Cavalcanti
1890 - Publicação da sua tradução de Obras Póstumas,
de Allan Kardec.
1902 - "A Casa Assombrada" (romance
originalmente publicado no Reformador e, postumamente, em livro, pela FEB).
1877 - "Espiritismo (Estudos Filosóficos)"
(colectânea dos artigos publicados em O Paiz no período de 1877 a 1894,
publicada pela FEB em três volumes).
1890 - "Os Carneiros de Panúrgio" (romance
originalmente publicado no Reformador e, postumamente, em livro, pela FEESP).
1920 - "A Doutrina Espírita como Filosofia
Teogônica" ou "Uma carta de Bezerra de Menezes" (réplica a seu
irmão que lhe exprobrava a conversão ao Espiritismo, publicada postumamente, em
livro, pela FEB).
1921 - "A Loucura sob novo Prisma" (estudo
etiológico sobre as perturbações mentais, publicado pela FEB).
Principais obras e mensagens
mediúnicas atribuídas a Bezerra de Menezes
Através de Francisco Cândido Xavier, comunicações nas
seguintes obras:
Antologia Mediúnica do Natal
Apelos Cristãos
Bezerra Chico e Você
Caminho Espírita
Cartas do Coração
Dicionário da Alma
Instruções Psicofônicas
Luz no Lar
Nosso Livro
O Espírito da Verdade
Relicário de Luz
Através de Yvonne do Amaral Pereira, comunicações nas
seguintes obras:
Nas Telas do Infinito (1ª. Parte, romance, ed. FEB).
A Tragédia de Santa Maria (romance, ed. FEB).
Dramas da Obsessão (romance, ed. FEB).
Recordações da Mediunidade (relatos e orientações, ed.
FEB)
Através de Divaldo Pereira Franco, comunicações nas
seguintes obras:
Compromissos Iluminativos
Através de Waldo Vieira, comunicações nas seguintes
obras:
Entre Irmãos de Outras Terras
Seareiros de Volta"
Através de Francisco de Assis Periotto, comunicações
nas seguintes obras:
Fluidos de Luz: ensinamentos de Bezerra de Menezes
(Ed. Elevação)
Fluidos de Paz: ensinamentos de Bezerra de Menezes
(Ed. Elevação)
Conversando com seu Anjo da Guarda - ensinamentos de
Bezerra de Menezes sobre a Agenda Espiritual (Ed. Elevação)
Através de Maria Cecília Paiva, comunicações nas
seguintes obras:
Garimpos do Além (coletânea de mensagens, ed.
Instituto Maria).
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